08 agosto 2002

Poesia que toda m�e de filhos deveria ler...

Chupetas punhetas guitarras


Elisa Lucinda

choram meus filhos pela casa
fraldas colos fanfarras
meus filhos choram querendo talvez meu peito
ou talvez o �nico leito que reservei pra mim
assim aprendi a doar
com o pranto deles
na marra aprendi a dar o mundo a quem do mundo �
a quem ao mundo pertence e de quem sou mera bab�
um dia serei irremediavelmente defasada, demod�
meus filhos berram meu nome fun��o
querendo p�o, ternura, verdade e ainda possibilidade de ilus�o
meus filhos cometem travessuras s�bias
no tapa bumerangue da malcria��o
eu que por eles explodi buceta afora afeto a dentro
ingiro sozinha o ouro excremento desta generosidade
aprendo que n�o valho nada em mim
que criar pessoas � criar futuro
n�o h� portanto recompensa, indeniza��o
mesquinhas voltas, ef�meros trocos.
choram pela casa e eu ou�o sem ouvidos
porque meus sentidos vivem agora sob a �gide da alma
chupetas punhetas guitarras
meus filhos babam conhecimentos da nova era
no ch�o da minha casa.
essa deve ser minha felicidade
aprendo a dar meu eu, aquilo que n�o tem c�pia
tampouco similar
e o tempo, esse cuidadoso alfaiate, n�o me conta nada
ass�duo guardador dos nossos melhores segredos
sabe o enredo da hist�ria
vai soprando tudo aos poucos e muito aos pouquinhos
faz eu lembrar que meu pai j� foi pequenininho
que s� por ele ter podido ser meu ontem
s� por ele ter fodido com desesperado desejo minha m�e
um dia eu existi.
choram meus filhos pela nasa onde passeamos planetas e reveses
eu escuto seus computadores, eu limpo suas fezes
fa�o compressas pra febre, afirmo que quero morrer antes deles
assino um documento node aceito de bom grado
lhes ter sido a mala o malote a estrela guia
um dia eles amar�o com a mesma grandeza que eu
uma pessoa que n�o pode ser eu
ser�o seus filhos suas mulheres seus homens
eu serei aquela que receber� sua escassa visita
n�o serei a preferida
serei a quem se agradece displicente
pelo adianto, pela carona
de poderem ter sido humanidade
choram meus filhos pela casa
eu sou a necess�ria b�ssola
a cegonha a gar�a
com um �nico presente na m�o:
saber que o amor s� � amor quando � troca
e a troca s� tem gra�a quando � de gra�a.

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